Gente esses dias eu tava olhando a grande fuga que houve em Alcaçuz, onde 41 presos fugiram do novo pavilhão do presídio considerado de segurança máxima.
É claro que aqui não vou discutir o que esses presos fizeram, seus delitos, suas penas e nem qual sao seus direitos, essa é uma questão polemica demais e cada um tem suas opiniões e defesas, e todo ponto de vista tem suas verdades e inverdades.
O que quero aqui abordar é a questão da dignidade humana, da falta de perspectiva de vida e da fábrica de "marginais" que estamos criando ao simplesmente marginalizarmos e jogar essa demanda muros e muros adentro, enclausulados e achar que a falta de liberdade e de acesso a sociedade resolve todos os problemas.
Os problemas estão justamente lá dentro... Um sistema penitenciário, onde os presos vivem em presídios superlotados, sofrem tortura, onde os internos são mantidos em condições que configuram tratamento cruel, desumano ou degradante, onde a ociosidade impera de todos os absurdos o maior encontrado.
Ociosidade - esta é a palavra chave...
Fala-se tanto em ressocializar os apenados... Ressocializar?
Reinserir na sociedade... Que sociedade??? Aquela mesma que já o excluía sendo quem era antes da prisão, imagina quando se deparar com um "ex presidiário"...
Como ressocializar sem dar função, sem dar responsabilidades, sem despertar nos mesmos as noções esquecidas ou muitas vezes inexistentes de família, bom caratismo, dignidade, esperança, fé e amor ao próximo?
Como trabalhar o respeito, a valorização do indivíduo, as noções de cidadania e de uma nova vida que inicia, não quando os mesmos saírem dalí, mas a partir dalí...
Como esperar que os mesmos saiam com condutas e comportamentos melhores, se tudo o que foi lhes oferecido foi terrorismo, vandalismo, omissão, punição, tratamento desumano, indigno...
Os presídios de hoje estão tornando-se verdadeiras escolas que formam os mais variados tipos de indíviduos de alta periculosidade. E não precisa "passar de ano" nesta escola, basta que você frequente.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em 2011, 445,7 mil presos integravam o Sistema Penitenciário do país. Quase meio milhão de pessoas que custam aos cofres públicos R$1.700 reais por mes... Pasmem... E o pior... Sem nenhum retorno, sem nenhum resultado, dinheiro puramente jogado fora...
É mais do que hora do Estado começar a pensar nessa demanda que cresce a cada dia, como um problema que não há como fugir, que precisa ser enfrentado, com eficácia, planejamento e responsabilidade.
Trabalhar essa ociosidade é um dos caminhos, colocar esses apenados para aprender funções, ter responsabilidades, aprendendo as funções através de parcerias com os próprios orgãos do Estado teríamos futuros padeiros, mecanicos, costureiros, embaladores, mestres de obras, artesãos, eletricistas, operadores de máquinas, jardineiros, escritores... Tantas e tantas funções que futuramente se transfomariam em profissões, que ali mesmo, enquanto aguardam sua sentença, estariam contribuindo pois seus serviços seriam vendidos e o dinheiro retornaria aos cofres públicos, ou ainda indenizariam as familias daquelas pessoas que de certa forma eles prejudicaram, que sustentariam seus próprios custos, que comprariam materiais de esporte para que o lazer fosse garantido, que assegurariam seus materiais de higiene pessoal, sem contar que os fariam sentir úteis, responsáveis... Cidadão.
Aprender noções de cidadania, meio ambiente, direitos, aprender a ler e escrever, cursos profissionalizantes... APRENDER...
Esse é o caminho...
Como diria Leonardo Da Vinci : "Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende."
Penso que esse é um desafio para o Assistente Social que trabalha nos presídios, encabeçar essa luta, formar parcerias, contribuir para que a permanencia dessa demanda, seja útil, contributiva, com menos tempo para se pensar em rebeliões, novos crimes, e ações externas.
É mais do que hora do Estado começar a encarar a responsalidade de admistrar também para os detentos. Quem sabe com políticas publicas de atenção a essa demanda, teremos um país menos violento, com menos índices de reincidencia, melhor de se viver...
Autora: Ana Karina da Cruz
Assistente Social
Presidente do INSA
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